Finalmente decidi começar a escrever. Abri então o laptop, carreguei a página em branco inicial e abri o Instagram.
Claro, porque depois de toda decisão que você procrastina em tomar, você primeiro procrastina um pouco mais, para manter a lógica do sistema funcionando antes de finalmente prosseguir. Pois bem, em algum momento fechei o Instagram e abri a página em branco inicial dessa vez de fato para escrever e dizer que hoje faz um pouco mais de um mês que meu filho entrou em uma escolinha.
Digo escolinha não somente pelo tamanho, mas também porque não é bem uma escola e mais um espaço de convívio - até porque o ser em questão tem 1 e 2 meses. E assim, como o tempo rende, né? Sem clubismo, mas talvez aqui as mães entendam um pouco mais, mas no primeiro dia de horário normal do Martin na escolinha eu trabalhei por uma hora sem interrupção e resolvi tantos problemas engatilhados há meses que antes de feliz fiquei chocada: "ah, então esse é o espaço-tempo que os humanos normais operam?". Mesmo não tendo sido mãe a minha vida toda, fazemos todos questão de esquecer o passado, e realmente foi maravilhoso relembrar quanto tempo cabe em uma hora.
Na logística atual da minha vida, tem feito mais sentido eu ficar esperando por perto dar o horário do meu filho na escola do que ir pra casa e depois voltar, o que quer dizer que eu realizei finalmente meu sonho pequeno burguês de ficar trabalhando em um café durante essas horas. Tenho muitos motivos pra ter esse sonho, mas um deles, é pela possibilidade de ouvir a conversa alheia, enquanto eles vem e vão, e eu fico, como a Alexa, mas sem toda a tecnologia envolvida e sem oferecer à ninguém anúncios personalizados enquanto bolo um plano de destruição em massa. Calhou de um desses dias eu estar no meu café-base e sentar do lado de uma dupla de mulheres. Já amei, e claro que todo amor nasce de uma boa projeção inicial. Eram poucos minutos depois do horário de abertura do café e elas já estavam sentadinhas tomando seu filtrado. Pensei, o quanto será que essas mulheres se programaram para conseguir honrar esse café às 08:07 da manhã de uma terça-feira? Se eu quiser ver minhas amigas no natal, provavelmente terei que dar entrada na papelada no cartório até o fim da semana no máximo.
Elas tinham seus - acho eu - 40, 40 e poucos anos, e estavam realmente bem felizes de estarem uma com a outra. Uma tinha um caderno, a outra um livro. Mostravam algumas frases uma pra outra, comentavam, riam, e do nada iam inserindo comentários sobre seu cotidiano enquanto bebericavam seus cafés.
Adorei especialmente a história que uma contou sobre um aniversário que foi em um restaurante/lounge discreto que do nada virou uma festa com umas moças dançando semi nuas e garrafas de champanhe estourando aleatoriamente.. a frase entreouvida: "era uma quarta-feira, não sei de onde elas saíram, mas àquela energia caótica transformou completamente a comemoração do aniversário, contaminou", fez meu dia. Veja bem, ela não estava chateada, nem fez uso do contaminou no sentido ruim, e sim rindo, alto. Olhem a beleza dessa entrega. Fui transportada para uma night que fui com umas amigas em uma boate no centro da cidade do Rio e o evento de estarmos juntas, um grupo grande pra lá de 10 mulheres, era tão raro, e estávamos tão envolvidas no momento que sem saber o que fazer, nos abraçamos no meio da pista, ombro a ombro entrelaçados, começamos a pular e rodar e em dado momento gritar: "playstation, playstation". Enfim, fui transportada para tantos dias e noites que o aleatório da vida fez com que um evento com minhas amigas se transformasse radicalmente num caos delicioso, que não era nem 09 da manhã e eu já estava completamente bêbada de nostalgia.
Senti falta dessa vida, mas mais ainda delas. Me conforta saber que a qualquer hora de qualquer dia - em breve, espero eu - estaremos tomando cafés bem cedinho nos relembrando dessas histórias, ou então celebrando outras como àquelas duas.
Que máximo! Nossa fui longe aqui também lembrando dos momentos vividos.
Saudades vamos marcar esse café!
Fiquei com a boca seca de expectativa, acho que até nem respirei enquanto lia, bravo Élide👏👏👏👏